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Notícias

Aplicações do Plasma Rico em Plaquetas em Reumatologia

No Dia Mundial das Doenças Reumáticas, dia 12 de outubro, importa chamar a atenção para as doenças reumáticas e salientar o seu impacto na sociedade, cada vez mais envelhecida. Muito se tem falado dos avanços terapêuticos e tecnológicos no controlo das doenças reumáticas inflamatórias (artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistémico, espondilite anquilosante, etc.), mas mais raros são os avanços no tratamento das doenças reumáticas não inflamatórias. Estas últimas englobam entidades bem mais frequentes como a osteoporose, artrose, fibromialgia e doença periarticular (tendinites, bursites, etc.).

O que é o Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e qual o seu potencial interesse nas doenças reumáticas?

O PRP é preparado com o sangue do próprio doente, após a sua colheita por enfermeiro especializado. Posteriormente, o sangue passa por um processo de centrifugação, concentrando plaquetas e, por conseguinte, fatores de crescimento, citocinas e outros mediadores bioativos existentes no plasma. Em seguida o produto assim obtido é aplicado pelo médico no local de interesse, que será no interior da articulação (no caso da artrose do joelho) ou na periferia de um tendão (no caso de uma tendinite). Idealmente este procedimento, ao qual chamamos de infiltração, deverá ser guiado por ecografia para aumentar a sua precisão e diminuir a dor associada ao mesmo.

A lógica desta terapêutica é permitir que as substâncias ativas incluídas no PRP possam promover regeneração tecidual, reduzir processos inflamatórios, estimular a vascularização, melhorar a cicatrização e modular a dor. Nas doenças reumáticas, em particular naquelas que envolvem desgaste cartilaginoso, surtos inflamatórios ou degeneração de tendões, isso pode representar um importante complemento ou alternativa com menor toxicidade aos tratamentos convencionais (como anti-inflamatórios, corticosteroides, fisioterapia, etc.).

Quando usar PRP?

Dadas as suas propriedades, esta técnica não é de uso limitado ao tratamento da doença osteodegenerativa pela Reumatologia e especialidades também dedicadas a esta área, como a Ortopedia e a Medicina Física e de Reabilitação. Assim, tem vindo a ser usada de forma frequente pela Dermatologia e Medicina Estética (na alopécia – queda de cabel -  e tratamento de cicatrizes) e Odontologia (disfunção da articulação temporomandibular, por exemplo). Outras especialidades com uso crescente desta terapêutica são a Oftalmologia e Neurocirurgia.

Na Reumatologia, a evidência mais robusta para o uso desta terapêutica é sem dúvida a artrose (principalmente do joelho) e a doença periarticular. O uso de PRP noutras doenças como a artrite reumatoide, esclerose sistémica e osteonecrose é ainda experimental e, por isso, de evidência limitada.

Evidência do uso de PRP na artrose

Uma revisão da literatura de 2020 que estudou resultados de 34 ensaios clínicos apontou para melhores resultados aos 6 e 12 meses no uso de PRP quando comparado às terapêuticas anteriormente disponíveis (infiltrações com ácido hialurónico e corticoides).

Mais recentemente, em 2024, um outro artigo de revisão apontou também para bons resultados em termos de dor e função pelo uso de PRP principalmente em doentes com artrose inicial. De notar que estes estudos se baseiam essencialmente no uso de PRP na artrose do joelho, sendo a evidência para as outras localizações mais limitada. Apesar dos benefícios encontrados, os autores deste estudo salientaram duas limitações dos resultados encontrados. A primeira refere-se à variabilidade das respostas terapêuticas entre os estudos. Esta variabilidade poderá ter a ver com fatores intrínsecos ao próprio doente que tornarão difícil uma boa resposta terapêutica.

Por exemplo, um doente com artrose avançada terá acumulado um dano estrutural tal, que este tipo de tratamento regenerativo não terá chance de ser eficaz. Assim, é importante uma boa escolha do doente, sendo a artrose inicial / moderada aquela que terá mais probabilidade de beneficiar deste tratamento. A segunda limitação apontada tem a ver com a heterogeneidade do tratamento em si: o sangue do doente e, por conseguinte, o produto infiltrado não é todo igual. Estes factos aliados a ligeiras diferenças no protocolo de centrifugação poderão tornar muito difíceis as comparações entre estudos.

Evidência do uso de PRP em tendinites e outras lesões de periarticulares

A lesão periarticular inclui uma gama de condições onde há dor, disfunção ou degeneração das estruturas adjacentes à articulação, quer elas sejam tendões, bursas, ligamentos ou outras. A situação mais frequente é a patologia do tendão (tendinopatia) que se pode traduzir por alterações agudas de inflamação e normalmente de dor (tendinite) mas também alterações crónicas como calcificações ou alterações estruturais, como roturas tendinosas.

Um estudo que analisou resultados de 27 ensaios clínicos (englobando mais de 1700 doentes) concluiu que a médio prazo (3 a 6 meses depois do tratamento) o benefício de PRP superou o dos corticoides em termos de dor e função para patologias como a fasceíte plantar, epicondilite lateral, tenossinovite, etc.[iii] Uma vez mais, os autores chamam a atenção para as possíveis limitações dos resultados da mesma forma como foi descrito acima para a artrose. Neste caso particular há que ter em conta que a patologia é ainda mais variável o que condiciona grande heterogeneidade dos grupos de doentes. A existência de comorbilidades (como artrite reumatoide) pode também influenciar a obtenção de resultados mais consistentes.

No Dia Mundial das Doenças Reumáticas, cabe celebrar os progressos, mas também manter o olhar crítico. O Plasma Rico em Plaquetas está a emergir como uma alternativa terapêutica com resultados animadores nomeadamente na artrose do joelho e tendinites. Ainda não há evidência suficiente para universalizar o seu uso e substituir em absoluto as terapêuticas mais antigas. Salienta-se também que é fundamental a seleção adequada do doente elegível para este tratamento pelo clínico responsável. Contudo, os resultados animadores de eficácia associados ao seu melhor perfil de segurança face aos corticoides, fazem prever que o uso deste tratamento inovador se faça cada vez mais no futuro.




Dr. Pedro David Carvalho

 

12 de Outubro de 2025